Rasmussen: “Sócrates renovou compromisso de reforma militar”


Num cenário de crise económica generalizada em que a NATO se multiplica em operações de grande envergadura – do Afeganistão, ao Kosovo e golfo de Áden – as questões ligadas ao financiamento das missões têm aberto brechas, especialmente por serem os americanos a carregar o fardo. Esta foi uma das ideias deixadas em Lisboa pelo secretário-geral da NATO, Anders Rasmussen, numa palestra ontem na Universidade Católica.
“Apelo aos aliados para que não deixem que as diferenças se acentuem porque elas já são suficientemente grandes.” Nas contas do ex-primeiro-ministro dinamarquês, os Estados Unidos “gastam três vezes mais por soldado do que os aliados europeus“. Estes números têm impacto na capacidade militar e tecnológica dos dois lados do Atlântico, principalmente numa altura em que “os americanos estão a redimensionar a sua posição dentro da Aliança”, sustenta um oficial de topo da organização. “Tento levantar a questão junto dos europeus: se não querem ser vistos apenas como consumidores de segurança e se pretendem que a Aliança continue vital, têm de gastar mais”, argumentou. Isto justifica, em parte, a insistência de Rasmussen na criação de um sistema comum de defesa balística que daria um sinal de “compromisso” do lado europeu. Num grupo de 28 países apenas cinco cumprem a meta de 2% do produto interno bruto alocado a despesas militares. Portugal não cumpre e por isso o tema foi abordado no almoço que Rasmussen – ontem pela primeira vez em Lisboa como secretário- geral – teve com Sócrates.
“Eu já fui primeiro-ministro e sei que num período de constrangimentos orçamentais os governos são forçados a fazer cortes em todas as áreas. A defesa não é excepção. Encorajo os aliados a manterem o compromisso com as operações da Aliança, e Portugal fá-lo. Encorajo os aliados a manterem a rota de reforma e transformação das suas Forças Armadas e essa foi exactamente a promessa que recebi do primeiro-ministro Sócrates” disse Rasmussen.
A Cimeira de Lisboa, a 19 e 20 de Novembro, é tida pelos dois homens como “histórica”. Nela estarão em cima da mesa alguns dos tópicos mais decisivos para a modernização da Aliança: aprovação do novo conceito estratégico, reforma interna, defesa antimíssil. E, claro está, a “grande prioridade”: Afeganistão. O corrente ano será decisivo para o Afeganistão e para a NATO (ver cronologia) e Rasmussen esforça-se por afastar a turbulência. “Este não é o tempo de indecisão. Este não é o tempo para dar aos talibãs a ideia falsa de que vamos retirar. Este é o tempo de enviar um sinal claro: que vamos ficar o tempo que for preciso.” A avaliar pelas palavras de Rasmussen, certo é que a solução para o problema afegão não passará – ao contrário do que é avançado pela imprensa internacional – por uma paz negociada com os talibãs e patrocinada pela NATO. “Não teremos conversações com os talibãs.”