ENTREVISTA A UM GENERAL DA OTAN/NATO, ALIANÇA MILITARISTA GLOBAL
Com que olhos vê hoje a NATO?
A razão de ser inicial da Aliança, uma missão militar de defesa colectiva contra um adversário único, a União Soviética, evoluiu para uma missão de defesa e de segurança. Já não há ameaça directa às nossas fronteiras que nos obrigaria a estar prontos a, no imediato, dispor das nossas armas. As nações têm consciência de que a sua defesa começa bem longe do seu território. A NATO está, portanto, em evolução. Não tão depressa quanto alguns o desejariam: falta-lhe um estado-maior e forças suficientes para colocar em acção em caso de crise.
Para além do mais, a compreensão do papel da Aliança varia duma capital dum dos seus 28 membros para outra. O novo “conceito estratégico” em preparação para 2010, que vai definir as suas missões para os anos a seguir, deverá reunir os seus membros sob uma visão comum. Por fim, as limitações orçamentais obrigam-nos a sermos inventivos e a fazer propostas realistas.
Que lições tirar da Força Internacional de Assistência e Segurança (FIAS) no Afeganistão, sobre a qual a Aliança atlântica concentra os seus meios?
Tiramos muitas lições, no quotidiano, sobre a forma como as operações se desenvolvem e o adversário se adapta. Trabalhámos na luta contra os engenhos explosivos improvisados, a contra-insurreição, a identificação do adversário. É preciso termos, nesse teatro, resultados rápidos. Reflectimos a “abordagem global”: sabemos que não há uma solução militar pura, mas também sabemos que não existe qualquer solução sem um apoio militar forte. Os militares são, muitas vezes, os primeiros a chegar ao terreno e são, por natureza, bem organizados. Devem poder agir com outros actores, estatais ou não. Como organizar a acção civil/militar? Uma das dificuldades é que certas organizações não governamentais não querem trabalhar com os militares. Cabe-nos a nós ir em primeira linha.
A FIAS é criticada por ser uma justaposição de forças mais do que uma coligação integrada…
O número muito grande de actores no conflito, 28 Estados membros da NATO e 43 países no total, também nos obriga a progredir nas questões da “inter-operacionalidade”: é preciso compatibilizar os treinos das forças, os seus meios de comunicação, as suas armas – por exemplo, a capacidade de recarregar as armas de uns com as munições de outros. Os países envolvidos ainda estão a descobrir os métodos de uns e dos outros quando chegam ao terreno. Eles devem, e isto é de uma importância muito grande, partilhar, a montante, a forma como as suas forças são preparadas.
O vosso comando elaborou um documento, “Futuros múltiplos”, que desenha cenários de crises futuras e a respectiva resposta militar. Vai servir para quê?
Este documento é um bom ponto para a reflexão em curso sobre o novo conceito estratégico. O meu comando está em posição de fornecer um parecer militar ao grupo de especialistas civis, designados pelo secretário-geral.
As pessoas sempre foram surpreendidas pelos acontecimentos da história. O essencial é diminuir o nível de surpresa: a partir de cenários potenciais, preparar-se. Num deles, intitulado “A face sombria da exclusividade”, as diferenças entre o mundo desenvolvido e o resto da humanidade aumentariam e criariam tensões. Os Estados fracos ou falidos seriam mais numerosos, assim como as zonas em que os países da Aliança seriam ameaçados. Isso poderia conduzir a NATO a impor acções dissuasivas e colocar o acento numa projecção rápida de forças para assegurar os recursos vitais, rever as regras dos acordos, que seriam mais difíceis para os exércitos.
O que é que propõe?
Desejo que o comando ACT tenha o papel dum Think Tank e mobilize melhor os conhecimentos disponíveis, seja para aconselhar uma nação que redija o seu Livro Branco da defesa, ou para trabalhar nos domínios de interesse comum, como o espacial ou o marítimo. Também é preciso melhorar a planificação dos meios de defesa; é um processo muito longo e complexo que consiste em olhar para o que existe em cada nação, compará-lo com as necessidades, preencher as lacunas. Esta planificação deve, agora, integrar os meios civis. Em terceiro, é preciso reduzir os atrasos na disponibilização de novos meios, equipamentos, ou homens.
Convém trabalhar muito a montante com os industriais, para identificar as tecnologias que possam ter uma utilidade militar e desenvolver capacidades multinacionais. Doze países fizeram-no através da aquisição de aeronaves de transporte estratégico. Uma simples partilha de conhecimento permitiria já uma melhor mutualização. Isso deve poder fazer-se no domínio da instrução das forças armadas. Por fim, é necessário trabalhar com as nações parceiras da NATO. Estamos juntos nos teatros de operações.
Na Web : consultar o documento “Futurs multiples”, www.act.nato.int/multiplefutures.
Entrevista efectuada por Nathalie Guibert