O capitalismo arma os dois lados da guerra (*)
A administração norte-americana de George W. Bush lançou-se na invasão do Afeganistão, através das forças e aliados da NATO, na defesa dos interesses capitalistas, ligados sobretudo à indústria petrolífera, nas mãos da família e amigos do, então, ocupante da Casa Branca.
Em causa a apropriação das jazidas de gás natural do país, bem como dos seus importantes recursos hídricos subterrâneos.
Oito anos depois, onde as forças da Nato desempenham o papel de ‘carne para canhão’ ao serviço dos interesses do capitalismo, os próprios soldados norte-americanos e seus aliados encontram-se perante uma desagradável surpresa para si mesmos: com efeito, desde meados de 2008 que têm sido apreendidas aos guerrilheiros Taliban armas ligeiras de assalto e munições de origem norte-americana e da República Checa – membro da NATO e um dos principais aliados dos EUA na antiga zona de influência do Bloco Soviético.
Os responsáveis da segurança militar norte-americana desenvolvem investigações, afim de se apurar a forma como este material bélico foram parar às mãos dos seus adversários. No que respeita às armas, dado o seu número relativamente pequeno, admite-se como situação mais provável, a apreensão aos soldados aliados abatidos ou capturados pelos Taliban, assalto aos arsenais da polícia afegã e, mesmo, venda por parte dos oficiais policiais corruptos.
Já quanto aos milhares de munições detectadas a situação é diferente e começa-se a desenhar junto dos investigadores uma realidade perversa: são munições fabricadas sobretudo na Califórnia, com um governador republicano, Schwarzenegger, e vendidas, através de intermediários, aos próprios Taliban.
Ou seja, que a máquina de guerra capitalista procura ‘comer a dois carrinhos’, vendendo armas e munições ao governo e aliados do seu País e aos adversários do seu próprio governo e do seu próprio país, alientando o conflito, mesmo à custa dos soldados seus compatriotas (mas afinal oriundos das camadas mais desfavorecidas da sociedade norte-americana), desde que, com isso, continue a alimentar os seus grandes lucros financeiros.
Nada que, no entanto, possa surpreender quem esteja atento à História: por um lado, ainda na esfera norte-americana, o escândalo Irangate e no que respeita a Portugal, a venda de armas e munições a ambas as partes do conflito Iraque-Irão.
(*de nosso correspondente dos EUA)